sábado, 7 de outubro de 2023

O que a primavera traz

E mais algumas coisas que reparei ao longo dos últimos meses

Praia da Biologia - Espírito Santo

Demorei bastante para voltar a escrever aqui porque tenho tantas observações sobre a mudança que é se atentar para o que consumimos, porque e o que implica mudar hábitos tão arraigados, que eu não sabia direito por onde começar. E isso porque, pra ser sincera, nem mudei tanta coisa assim.

Enfim, algumas atualizações que eu acho que são válidas, uma vez que eu me comprometi. Em primeiro lugar, as finanças. Eu comentei que estava seguindo os baby-steps do estadunidense Dave Ramsey; já completei os passos 1 e 2, juntar um fundo de emergência de R$ 1.000 e quitar todas as dívidas. Estou agora no passo 3, reunir o equivalente a 3 ~ 6 meses de despesas na reserva de emergência. Apesar da estabilidade do meu emprego, vou tentar chegar aos 6 meses porque não tenho gostado muito dos indicadores da economia global. 

Para coroar, cancelei meu cartão de crédito. 

Ainda não sei se me arrependo ou não, mas uma coisa é certa: tenho gastado muito menos. Nossas avós e a economia comportamental explicam que gastar nosso dinheiro de uma maneira física é muito mais real e, para ser sincera, quase mais doloroso. E, bom, eles não estão errados. Por outro lado, eu senti falta de um cartão de crédito quando quis comprar uma viagem que fiz agora no final de setembro, ou quando, ao chegar na minha cidade, precisei pegar um Uber de madrugada e meu cartão de débito não foi aceito, porque a Uber impõe um limite de 50 reais, e a viagem deu mais que isso. (No final tudo se resolveu, bastou eu pagar via Pix, mas eu sempre fico insegura/preocupada com a possibilidade do motorista me largar em algum lugar e ir embora).

Vou continuar sem cartão de crédito por enquanto, principalmente porque eu reajustei meu orçamento mensal há pouco tempo (51% gastos, 31% poupança, 18% viagens e passeios) e no começo é sempre bom adicionar uma camada a mais de dificuldade quando o quesito é gastar dinheiro, e, ao mesmo tempo, acrescentar uma camada a mais de facilidade quando o assunto é poupar.

(Falando nisso, e para quem investe no Tesouro Direto, uma facilidade que não é tão recente, mas que eu descobri há pouco é o Cad&Pag, uma ferramenta que permite que se invista no Tesouro usando o Pix - seja um Pix único ou com recorrência, o que é ótimo e muito prático!)

Quanto mais eu refleti sobre o que queria falar sobre nesta postagem, mas eu percebi o quanto a mudança de hábitos financeiros norteou meus últimos meses e o quanto me ajudou a perceber algumas visões equivocadas que eu tinha de mim mesma. E o quanto é difícil: seja reavaliar nossas escolhas, fazer novas e abrir mão de tantas outras. Também tem me ensinado a me comunicar com as pessoas ao meu redor: "podemos trocar esse jantar por um café? Você quer vir até minha casa tomar um chá com bolo em vez disso? Que tal um sorvete - eu conheço um lugar ótimo!" E o meu antigamente mais temido e hoje expresso com um pouco menos de acanhamento: "Desculpe, está fora do meu orçamento. Podemos deixar pra próxima?"

Ser honesta com relação ao meu dinheiro comigo mesma me permite a cada dia mais exercitar a minha honestidade própria com o que quero da e pra minha vida, sabe? Por mais excêntrico ou bobo que eu mesma possa achar (eu tenho essa hábito de ficar julgando meus próprios gostos e vontades, e classificando-os entre aceitáveis e inaceitáveis). Assim, se for prioridade, toma precedência e entra para o orçamento, se não, fica fora. 

Foi assim, por exemplo, que eu parei de fazer parte de um clube de literatura. Eu achava que era 'o que era certo', que me fazia 'estar em contato com os círculos certos', que eu aprenderia sobre literatura com 'as pessoas certas'. Mas, sendo sincera, é uma chatice. Uma chatice! Os livros da curadoria, chatos. As aulas com especialistas, chatas, o grupo de WhatsApp, chato. Não me entenda mal, eu consigo ser bastante esnobe e pretensiosa, mas o grupo inteiro escolhia falar mal de certos tipos de livros e editoras e as discussões eram sempre em torno de quão 'em voga' estavam os livros escolhidos nos círculos de premiação brasileiros e internacionais. Por meio do grupo, eu reuni diversas dicas preciosas sobre bibliografia, li alguns livros interessantes que, de outra maneira, eu não teria escolhido. Mas, honestamente? O saldo pendeu muito mais pro lado negativo do que para o positivo.

Se não fosse pelo projeto de reeducação financeira, eu, muito provavelmente, teria decidido continuar no curso eternamente, tentando me convencer de que estava tudo bem e que eu tinha alguma dificuldade por não conseguir aproveitar e me divertir com a leitura, como os outros pareciam fazer. Pode ser que eu ainda pense nisso em um momento ou outro, mas nada substitui a alegria que é fazer um curso de francês, comprar um thriller policial e ler sem culpa, ou almoçar em restaurante gostoso com o dinheiro do curso de literatura, e tudo bem.

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Algumas coisas que reparei ao longo dos dias:

1. Os pés de frutas cheios me traz uma alegria tão infantil. Não me canso de achar bonito! Por aqui já vi manga, jabuticaba, amora, pitanga, acerola.

2. Os ipês estão florindo todos de maneira dessincronizada - talvez por causa do clima tão doido - então, qual não foi minha surpresa ao sair pra caminhar em um final de tarde de domingo e toda a pista de caminhada estava rodeada de ipês amarelos em flor?! Eu sempre me sinto como se estivesse em um filme!

3. A nossa relação com a língua. Eu tenho feito aulas de francês - gosto tanto e fiquei tão feliz de reduzir alguns gastos para me comprometer com o valor da mensalidade, sem falar no fato de que agora, depois da pós, eu tenho tempo de verdade para me dedicar - e tenho pensado em como a nossa relação com a língua muda com cada idioma no qual nos aprofundamos. Um exemplo? Minha relação com o espanhol é uma relação de mais relaxamento e abertura do que minha relação com o português. No sentido de que consigo me comunicar com muito mais suavidade e de entregar uma mensagem que alia sutileza e assertividade. No inglês, por outro lado, toda a suavidade some. É uma língua que eu amo, mas, com ela, consigo dizer com mais clareza e muito menos palavras a minha mensagem. Com o inglês, eu sinto que não preciso agradar tanto o outro, sou menos responsável se o outro vai gostar ou não da mensagem. Já com o francês, sinto que há tanto o que quero dizer, mas que não consigo, porque ainda não consegui apreender qual, na falta de uma palavra melhor, lado da minha personalidade, quero deixar transparecer. Claro que tem também uma questão de vocabulário, porque ainda estou no módulo 2, mas não consigo deixar de lado a impressão de que ainda não "escolhi quem quero ser", e por isso a dificuldade com a parte oral.